Roma, 7 de abr de 2014 às 11:19
Faz uns dias, o Papa Francisco recebeu cinco jovens belgas e dialogou com eles sobre a sua vida pessoal, seus erros, a pobreza do mundo e a situação da juventude na atualidade. O encontro foi gravado com várias câmaras e serviu a um cineasta para criar um curta-metragem que foi difundido rapidamente pela internet.
A iniciativa começou de um projeto de comunicação da Pastoral da Juventude de Flandres. Quinze jovens trabalharam nele e, graças a Dom Lucas Van Looy, Arcebispo de Gent, conseguiram a entrevista com o Pontífice, que aconteceu na biblioteca do Palácio Apostólico em 31 de março.
Os cinco jovens que participaram fizeram perguntas em inglês e o Santo Padre Francisco respondeu em italiano. A princípio, o Papa afirmou que sente como “um dever” responder às inquietudes dos jovens.
“Os jovens têm inquietudes, e eu sinto como um dever servir a estes jovens, porque a inquietude é como um sinal. Sinto que devo fazer um serviço ao que é mais precioso neste momento, que é a inquietude dos jovens”, disse Francisco ao ser consultado sobre as razões pelas quais aceitou a entrevista.
Conforme assinala AICA, mais tarde e falando sobre os pobres, Francisco disse: “Este é o coração do Evangelho. Eu creio em Deus e em Jesus Cristo; para mim, o coração do Evangelho são os pobres. Há dois meses, ouvi que uma pessoa disse, por isto, por falar sobre os pobres, por ter essa preferência: ‘Este Papa é comunista!’ Não. Essa é uma bandeira do Evangelho, não do comunismo: do Evangelho! Mas a pobreza sem ideologia, a pobreza… E por isso creio que os pobres estão no centro do anúncio de Jesus”.
“Neste momento da história –continuou o Santo Padre– o homem foi tirado do centro, foi atirado para a periferia, e no centro, pelo menos neste momento, está o poder, o dinheiro. Neste mundo, os jovens são expulsos. São expulsas as crianças, porque se pretendem famílias pequenas, e são expulsos os idosos”.
“Muitos deles morrem pela eutanásia escondida, porque não se cuida deles”, disse Francisco, repetindo uma ideia já transmitida semanas atrás a um grupo de docentes e sindicalistas argentinos.
Como naquela ocasião, o Papa mostrou sua preocupação pelo desemprego juvenil: “Na Itália, o desemprego dos jovens é quase de 50 por cento. Entramos numa cultura do descarte, o que não serve a esta globalização se descarta: os idosos, as crianças e os jovens”.
Francisco, fazendo referência a sua experiência em Buenos Aires, disse que se reuniu e que tinha falado “com muitos jovens políticos”, de direita e de esquerda, e que estava “contente, porque falam com uma nova música, um novo estilo de política”.
Ao responder a uma pergunta sobre o futuro da humanidade, o Papa Francisco questionou: “Onde está Deus e onde está o homem? Você, homem do século XXI, onde está? E isto me faz pensar: Onde está Deus? Quando o homem se encontra a si mesmo, busca Deus. Talvez não consiga encontrá-lo, mas segue num caminho de honestidade, buscando a verdade, por um caminho de bondade e um caminho de beleza… Mas o caminho é longo e algumas pessoas não o encontram na vida. Não o encontram conscientemente. Mas são muito verdadeiras e honestas consigo mesmas, muito boas e muito amantes da beleza, que acabam tendo uma personalidade muito madura, capaz de um encontro com Deus, que é sempre uma graça. Porque o encontro com Deus é uma graça”.
Os jovens perguntaram a Francisco se ele erra. Ele lhes respondeu sorrindo: “Errei e erro”.
“Costuma-se dizer que o ser humano é o único animal que tropeça duas vezes com a mesma pedra –adicionou-. Os erros na minha vida foram assim, grandes mestres de vida. Não diria que aprendi com todos os erros que cometi: não, creio que não aprendi com alguns deles, porque sou cabeça-dura e não é fácil aprender. Mas dos muitos erros aprendi e isso fez-me bem”.
Os jovens lhe pediram que desse um exemplo concreto: “Escrevi isso em um livro, está publicado. Fui nomeado superior muito jovem e cometi muitos erros com o autoritarismo, por exemplo. Eu era muito autoritário: tinha 36 anos… Depois, aprendi que se deve dialogar, que se deve ouvir o que os outros pensam… Mas não foi aprendido de uma vez por todas! É um caminho longo”.
Também lhe perguntaram se ainda tem medo de algo, ao que respondeu: “De mim mesmo”. Sempre sorridente, disse-lhes: “No Evangelho, Jesus repete muitas vezes ‘Não tenham medo!’. O diz muitas vezes, porque sabe que o medo é algo normal: temos medo dos desafios da vida, medo diante de Deus. Todos temos medo, todos, não temos que preocupar-nos com ter medo, mas devemos tentar esclarecer a situação. Há um medo ruim e um medo bom: este último é a prudência. O medo ruim te nubla, não te deixa atuar, e deste temos que afastar-nos”.
O jovem que filmou a entrevista perguntou ao Papa se ele é feliz. Francisco lhe deu outro sorriso e lhe respondeu: “Absolutamente. Sou completamente feliz. Tenho uma certa paz interior, uma paz grande. É uma felicidade que chega com a idade e também com um caminho. Na minha vida, e inclusive agora, tive sempre problemas, mas esta felicidade não vai embora com os problemas”.
A última pergunta dos jovens belgas foi “O senhor teria uma pergunta para nós?”. E ele lhes disse: “A pergunta que gostaria de fazer-lhes não é original. Tomo-a do Evangelho. Onde está o teu tesouro? Essa é a pergunta. Onde repousa o teu coração? Em que tesouro repousa o teu coração? Porque onde estiver o teu tesouro estará a tua vida. O coração se apega ao tesouro: pode ser o dinheiro ou o orgulho, ou a bondade, a beleza, o desejo de fazer o bem. Essa é a pergunta, mas devem respondê-la vós mesmos, sozinhos, em casa. Obrigado”.